sexta-feira, 23 de março de 2018

Para curtir Fotografia em Fortaleza


Quem mora ou está visitando Fortaleza e gosta de Fotografia não tem do que reclamar. Pelo menos quatro excelentes exposições estão em cartaz em diferentes espaços da cidade.

A Caixa Cultural abre as portas para ninguém mais ninguém menos do que Sebastião Salgado o mais reconhecido fotógrafo brasileiro da atualidade e sua premiada exposição Êxodos que trata da migração dos povos pelo mundo.

Já no Museu da Fotografia Fortaleza (MFF) o tema é a África com a exposição Luz e Sombra – África Monumental de Christian Cravo. Mais uma vez o MFF mostra vigor com uma exposição de peso. As enormes fotografias são de uma qualidade ímpar e nos mostra detalhes fascinantes permeados por luz e sombra num preto e branco revelador dos detalhes de animais selvagens e das dumas gigantes dos desertos de sete países africanos.

Foto: Sebastião Salgado, divulgação

Já quem quer prestigiar fotógrafos cearenses mais duas exposições são imperdíveis. Luciano Carneiro e Marcos Vieira estão em cartaz respectivamente no Dragão do Mar e na Assembleia Legislativa.

O Dragão do Mar em parceria com o IMS – Instituto Moreira Salles mostra cerca de 300 fotografias do fotojornalista cearense Luciano Carneiro morto precocemente aos 33 anos em 1958. Luciano foi um dos grandes fotojornalistas da revista O Cruzeiro um marco da impressa nacional. Através da revista o fotojornalista percorreu o Brasil e o mundo registrando e escrevendo matérias de Cuba à Rússia (então URSS) passando pelos Estados Unidos e Japão com destaque pra a cobertura da Guerra da Coreia.

Já o fotógrafo, sociólogo e professor Marcos Vieira escolheu as mulheres cearenses como tema de mais uma de suas exposições. A exposição Mulheres Cearenses é composta por retratos de mulheres de diversas partes do Ceará de várias profissões como artesãs, professoras, marisqueiras, donas de casa... Nas palavras dele como mencionado no site da AL, a exposição conta com um painel com as características mais marcantes das mulheres. "Resiliência, Amorosidade, Coragem, Maternidade e o neologismo Negratitude, que resumem as imagens."

Para quem gosta de Fotografia é só curtir.

Serviço

“Êxodos” de Sebastião Salgado, 20 de março a 20 de maio, de terça a sábado das 10 às 20 horas, aos domingos de 12 às 19 horas na Caixa Cultural Fortaleza, Avenida Pessoa Anta, 278, Praia de Iracema, gratuito.

“Luz e Sombra - África Monumental de Christian Cravo”, de março a julho no Museu da Fotografia de Fortaleza, rua Frederico Borges, 545, Varjota, gratuito às quartas, R$ 10 de quinta a domingo.

“Luciano Carneiro: O Olho e o Mundo” de 23 de fevereiro a 13 de maio no Museu da Cultura Cearense, no Dragão do Mar, rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema, gratuito.

“Mulheres Cearenses” de Marcos Vieira, de 21 a 28 março no Malce, no hall do edifício Senador César Cals, anexo I  da Assembleia Legislativa do Ceará (entrada pela rua Barbosa de Freitas), gratuito.

Enio Castelo
@eniocastelo

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

II ENCONTRO CEARENSE DE FOTOGRAFIA – 2017

Acontece entre 30 de outubro e 02 de Novembro no Centro Cultural Banco do Nordeste em Juazeiro do Norte/CE o II Encontro Cearense de Fotografia – 2017.

Alguns destaques da programação são o lançamento da Revista Mandakaru e a Fala: a fotografia no Ceará com Tiago Santana




Segue na integra o convite o evento:

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II ENCONTRO CEARENSE DE FOTOGRAFIA – 2017
30 outubro a 02 de novembro – Juazeiro do Norte, CE 

A fotografia do Ceará tem se destacado no circuito nacional desde a década de 1950, com o pioneirismo de Chico Albuquerque, até a diversidade de experimentações dos autores contemporâneos. A despeito dos méritos criativos, os fotógrafos cearenses enfrentam dificuldades em projetar suas produções fora do estado. Nos últimos anos, movimentos de reorganização, com a constituição do Instituto da Fotografia (Ifoto) em 2004 e do Fórum da Fotografia - Ceará em 2011, demonstram a intensificação das ações coletivas em busca de agregar agentes e fortalecer iniciativas do setor.

Essa mobilização evidenciou a necessidade de se reunirem os autores e produtores do segmento para discutir o cenário local, a fim de reconhecer o perfil da Fotografia Cearense e debater sobre demandas, estratégias e propostas para o desenvolvimento dessa linguagem.

Dessa forma o Fórum Cearense da Fotografia realizou em 2013 I Seminário da Fotografia no Ceará, que propôs uma ação inédita para construir e sistematizar conhecimento sobre a cadeia criativa da Fotografia com participação de agentes de todo o estado. 

O II Encontro Cearense de Fotografia promovido pelo Fórum da Fotografia Ceará e será realizado no período de 31 de outubro e 01 de novembro de 2017, no Centro Cultural Banco do Nordeste, na cidade de Juazeiro do Norte.

Objetivo
O II Encontro Cearense de Fotografia tem como objetivo mobilizar fotógrafos e agentes da cadeia criativa da fotografia no Ceará a fim de fortalecer e dinamizar a produção fotográfica no estado, por meio da intensificação da troca de conhecimentos e experiências.

Objetivos específicos
Reunir agentes da cadeia criativa da fotografia para agentes da cadeia criativa da fotografia no Ceará a fim de fortalecer e dinamizar a produção fotográfica no estado, por meio da intensificação da troca de conhecimentos e experiências.
Reunir agentes da cadeia criativa da fotografia para mapear, atualizar e sistematizar as informações sobre o perfil da produção cearense;
Estabelecer articulação com os fóruns regionais de cultura para reforçar o envolvimento desses realizadores com a política cultural do estado;
Iniciar as discussões para a elaboração de um plano setorial para a fotografia no estado, visando a consolidação de políticas públicas específicas da área.

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PROGRAMAÇÃO

1 / 10 / 2017 (terça-feira)
15:00   Fala de Abertura Fórum Cearense de Fotografia
15:30 Panorama da Fotografia no Ceara – Glicia Gadelha
16:00   Conversa Aberta sobre a Produção fotográfica no Ceará 
18:00   Fala (Inter) - Ações Fotográficas com Titus Riedl
19:00   Pré-lançamento Livro “Casou no Papel” e exibição do filme Quadro Ampliado             
            do Fotógrafo e Pesquisador Luiz Santos (PE)
21:00   Lançamento da Revista Mandakaru e Projeções Fotográficas 
            Local: Cantina Zé Ferreira

01 / 11/ 2017  (quarta-feira)
09:00   Oficina de Fotografia – Parafotografia e Pararrevelação - Luiz Santos
            Local: FotOficina - Crato
15:00   Fala: A Fotografia no Nordeste –  Paula Fernandes
16:00   Fala: Recorte da Fotografia no Cariri – Nívia e Uchôa e Alan Bastos
17:00   Fala: "desmedida" Ensaio sobre o crime da Samarco Rubens Venâncio
17:30   Conversa Aberta sobre a Produção fotográfica no Ceará
19:00   Fala: A fotografia no Ceará com Tiago Santana

02 / 11/ 2017  (quinta-feira)
7:00  Rolezinho fotográfico Lambey-Day - Luiz Santos
03 / 11/ 2017  (sexta-feira)
09:00   Oficina de Fotografia – Parafotografia e Pararrevelação - Luiz Santos
Local: FotOficina 

Organização:
AnimaCult
Poesia da Luz

Apoio:
FotOficina – fotografia alternativa
FOCA – fotografia cariri
Centro Cultural Banco do Nordeste
Secretaria de Cultura do Estado do Ceará

Contatos:
Glicia Gadelha
85 996918458

Nívia Uchôa
88 996127485

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Na Linha de Frente – Uma reflexão sobre o horror

É notícia na imprensa que Fortaleza é uma das cidades mais violentas do Brasil, até do mundo, e pode ter certeza que fotografar aqui é um perigo constante. Mas o que dizer dos brasileiros que fotografam os conflitos pelo mundo? Isso é o que se propõe mostrar a exposição Na Linha de Frente – Fotógrafos Brasileiros em Conflitos Armados, em cartaz no Museu Fotografia Fortaleza (MFF) até fevereiro de 2018.

A guerra é algo cruel e revela o pior do ser humano. Algo que precisa ser mostrado e debatido pela sociedade para que seja, ao máximo, evitada. É um ato de risco fotografar esses eventos e é necessário muita técnica e profissionalismo. Mas as mais de 70 obras em exposição vão além, exibem o olhar peculiar de cada jornalista.

Os retratos feitos de crianças na série Sonhos por João Castellano, por exemplo, mostram uma inquietação sobre o futuro das pessoas que vivem nas áreas de conflito. A partir da pergunta: o que você quer ser quando crescer, ele inicia a interação com as crianças que no dizer de Cristina Veit passam a ser “protagonistas e não mais vítimas” e daí surgem os retratos. São retratos de corpo inteiro, de frente, ao fundo uma parede de concreto desgastado pelo tempo. São crianças como quaisquer outras, mas vivendo uma realidade brutal. Em última análise caberá a elas no futuro decidir se permanecerão em guerra ou se optam pela paz.

Fotografias da série Sonhos, João Castellano, DIVULGAÇÃO
Também desperta admiração o trabalho de André Liohn. Ele capta as imagens tão próximas usando uma lente 28 mm e faz valer a máxima de Robert Capa “Se suas imagens não ficaram boas, é porque você não se aproximou o suficiente de seu assunto”. Algumas imagens são chocantes e desassossegam. Mas é a realidade, é o mundo em que vivemos sem desfaces. Nas palavras do próprio Liohn “o máximo que podemos fazer é registrar a guerra com honestidade, sem filtros”.

Em umas das fotos de Liohn, um pé de soldado está pisando uma poça de sangue e cartuchos de bala. Na foto O dominante e o dominado (2011) uma mão julgadora aponta pra dois homens sentados totalmente submissos. Já na fotografia Vitórias e derrotas (2011), um soldado está fazendo uma fotografia de outro que mostra o V da vitória sob um cadáver ensanguentado. É o ódio concretizado e precisa ser visto porque é uma das faces da humanidade.

O Brasil não tem muita tradição em fotografia de guerra, esse trabalho está sendo feito majoritariamente nesta última década. E é o que mostra a exposição, uma iniciativa interessante embora não se possa definir um olhar brasileiro da guerra, cada jornalista tem sua visão. E acho que é bom que seja assim. Além de Liohn e Castellano integram a exposição Gabriel Chaim, Mauricio Lima, Felipe Dana e Yan Boechat.

Acima de tudo quando vamos a uma exposição dessas precisamos aprender a ter um pouco de coragem para encarar pela frente imagens tão brutais. É papel de fotojornalistas nos apresentar tal realidade. Mas deve ser uma tarefar dura e sobre tudo complexa. Como enfrentar o medo? Como construir um olhar estético sobre o horror?

Refletir sobre o horror nos faz também lembrar a guerra camuflada em Fortaleza e do papel do fotojornalista no nosso cenário, bravos combatentes a mostrar uma violência que não pode ser esquecida, mas antes de tudo, refletida.

Enio Castelo

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Últimas semanas para apreciar Chico Albuquerque no MAC-CE

Este blog não é atualizado há vários anos, estou retomando a escrever para falar sobre a obra de Chico Albuquerque em exposição no MAC-CE do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura até o próximo dia 17/09.

Ou talvez não exatamente sobre isso, já que a exposição teve grande repercussão e muito já se disse sobre o legado de Chico Albuquerque não só para o Ceará, mas para o Brasil, mesmo que nunca seja muito falar sobre Chico Albuquerque queria sim ressaltar o trabalho de curadoria e produção de Patrícia Veloso (Terra da Luz Editorial) sem o qual acredito a exposição não poderia ter se concretizado como foi.

Estive na última quarta (30/08) na visita guiada que Patrícia proporcionou gratuitamente a quem se interessasse em se aprofundar na obra de “Seu Chico” (como ela carinhosamente o chama). Foi uma verdadeira aula sobre a fotografia. A história de Chico Albuquerque se confunde com a história da fotografia no Ceará e do Brasil, sem ele não se pode falar da fotografia cearense, e talvez seja o seu maior representante.

Autorretrato de Chico Albuquerque, Divulgação


O Pai de Chico Albuquerque, Ademar Bezerra de Albuquerque, foi o fundador da Abafilm a mais importante firma de fotografia do Ceará, entre seus feitos está o patrocínio de Benjamim Abrahão que fez o mais contundente e naturalista registro do bando de Lampião.

Chico Albuquerque também esteve ligado (ele fez o still do filme) às filmagens de It’s all true, mítico filme inacabado de Orson Wells que teve algumas filmagens realizadas no Ceará. Cenas do filme, que são preciosidades podem ser vistas na exposição e fica claro como o encontro com Wells foi determinante para o olhar que Albuquerque desenvolveria em sua fotografia posteriormente. Ouso dizer que também a dimensão do trabalho de Wells foi fundamental para o profissionalismo que Albuquerque sempre pautou no seu trabalho. Isso fica evidente no trabalho como retratista e depois fotógrafo publicitário e de arquitetura com o quais Albuquerque se estabeleceu em São Paulo.

Outro aspecto importância histórica que Patrícia destacou na visita guiada foi o vínculo e o tamanho que Albuquerque conseguiu alcançar no Foto Cine Clube Bandeirante. Ela cita, por exemplo, que quando Albuquerque apresenta seu portfólio aos integrantes do fotoclube praticamente se impõe como um dos seus mais importantes membros.

Um dos fatos que me chamou atenção foi o destaque na exposição para o retrato feito por Albuquerque de Geraldo de Barros que na época causava discussão por sua fotografia “peculiar” e muitas vezes questionada se realmente poderia ser chamada de fotografia. Hoje Geraldo é considerado um dos maiores artistas brasileiros do século XX e isso é interessantemente e sutilmente colocado na exposição.

Destaco também como Patrícia consegui trabalhar em conjunto com o IMS – Instituto Moreira Salles (em parceria com o também curador Sergio Burgi) responsável por grande parte do acervo de Albuquerque sobre tudo seu trabalho em São Paulo. A capital paulista por sinal é magistralmente representada em uma sala com fotografia antológicas e pouco conhecidas do público cearense. Essas imagens dialogam perfeitamente com as fotografias do Mucuripe, Jericoacoara e Frutas. Deve ter sido um trabalho árduo fazer esse meio de campo entre o IMS e as fotografias do acervo do Ceará tal a abrangência dos temas. O IMS é hoje talvez a instituição mais importante do Brasil quando se fala em fotografia e preservação de acervos e essa comunicação entre o IMS e o Ceará foi o grande trunfo de Patrícia e do projeto.

Quem ainda não visitou a exposição ela segue até o dia 17/09/2017 e é imperdível. Trata-se de: Fotografia, História, Arte e Mercado. Recomendo separar uma tarde inteira para desfrutar do profissionalismo misturado à técnica e arte de Chico Albuquerque.

Também uma ótima dica é adquirir as publicações em torno da obra do fotógrafo, registros históricos e belíssimos que podem ser levados para casa e guardados como tesouros.

SERVIÇO
Museu de Arte Contemporânea do Ceará – Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura
Até 17/09/2017
Terça a sexta: 9h às 19h
Sábados, Domingos e Feriados: 14h às 21h

EC

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Galeria Ifoto


Estive em duas exposições nestas semanas. Uma no Centro Cultural dos Correios em Fortaleza, “Um olhar livre”, do fotógrafo lituano Antanas Sutkus, com curadoria de Luiz Gustavo Carvalho e na “Galeira Ifoto”, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

A exposição de Sutkus me fez lembrar o incrível poder da fotografia (e do cinema também, que não deixa de ser fotografia) de nos transportar a outros lugares tão dispares de nossa realidade que ficamos fascinados com as novas referências. Mas não vou escrever sobre isso hoje, deixo para um próximo artigo.

Queria mesmo falar da Galeria aberta pelo Dragão do Mar usada pela primeira vez pelo Ifoto – Instituto da Fotografia (grupo de fotógrafos cearenses). É um espaço novo muito bem vindo em Fortaleza onde obras de diversos artistas poderão ser negociadas ao público. O espaço está muito bacana e vale a pena a visita.

Não sei quem fez a curadoria das obras expostas, mas fotografias e fotógrafos estão muito bem selecionados. Talvez a nata dos fotógrafos cearenses, embora algumas figuras faltem inevitavelmente como Tiago Santana, por exemplo, hoje o mais reconhecido dos fotógrafos cearenses no Brasil e no exterior.

Dentre as imagens selecionadas há a habitual competência e o profissionalismo de Gentil Barreira. Há também o já clássico testemunho visual do povo mais sofrido de nossa terra feito por Celso Oliveira, a delicadeza de Henrique Torres, entre outros fotógrafos. Mas dois profissionais me chamaram mais a atenção em particular: Sheila Oliveira e Silas de Paula.

O professor e pesquisador Silas de Paula leva à galeria imagens grandes em tamanho, o que já gera um impacto inicial, elas nos propiciam uma perspectiva diferente, eu diria inusitada. Olhamos para a cena de cima para baixo como fossemos deuses no céu ou pequenas moscas a bisbilhotar a vida alheia. Deve ter sido difícil a produção das fotos (ou quem sabe ele se valeu de algum insight que só os geniais têm). As cenas são compostas por prosaicas mesas na hora da refeição. É a hora do lanche, quando somos quem realmente somos.  A cor nas imagens, muito bem colocada, é outro fator que chama a atenção.

Sheila Oliveira consegue ser mais brilhante ainda. Ela dá um efeito plástico às suas imagens em perfeita sintonia com o melhor da arte contemporânea. Seu conhecido e árduo trabalho sobre o aterro da Praia de Iracema parece ter chegado ao ápice com essas imagens. Ela usa do minimalismo para tornar as fotos (uma sequência de três imagens) próximas à arte concreta. A iluminação do aterro serve de instrumento para as formas geométricas e o granulado das fotografias nos dá a sensação tátil que precisamos para vermos nas imagens mais do que simples fotografia, mas arte independente do nome que se dê ao suporte. Além de abordar um tema muito caro à arte atual: a cidade. Já que se trata de um registro de um local muito importante na cidade de Fortaleza, inclusive fruto de uma intervenção humana na natureza que deve ser discutido em seu papel e em suas consequências (o que está sendo feito pelo trabalho de Sheila mesmo que essa não seja a intenção dela). Um trabalho digno de uma bienal.

Não sei quanto as obras estão custando (não havia ninguém para informar, uma pena), mas seguramente é um investimento bom para quem sabe que a fotografia cearense tem seu valor e aos poucos vai fazendo a sua história. Espero que essa experiência dê frutos e fotógrafos mais novos possam também mostrar seu trabalho num futuro próximo.

Fotografia de Sergio Carvalho que faz parte da seleção de imagens da galeria


Fortaleza – CE, fevereiro de 2013.

Enio Castelo

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Entre Orillas


A relação entre o viajante e a fotografia é poderosa. Viajar sem um equipamento fotográfico é quase impossível de se pensar nos dias de hoje, mas o resultado...

Mas e quando a viagem é um passeio, mas o turista é um fotógrafo profissional? Ai o resultado pode ser brilhante.

Iana Soares repórter fotográfica do jornal O Povo viajou a passeio para Sul das Américas, mas se viu sem seu equipamento, que quebrado, lhe deixou na mão. Apareceu então um celular de presente do pai. E como fotografia depende muito menos de equipamento do que do olhar e da desenvoltura do fotógrafo, as imagens ficaram belíssimas num prosaico retrato das terras e das gentes do Sul da América.

Comparando o resultado das fotos de Iana ao dos turistas (fotógrafos eventuais) fico a pensar como a fotografia é mesmo uma forma de arte e uma atividade que requer além de treinamento, dedicação, estudo e empenho em desenvolver um bom trabalho.

Não basta comprar o melhor equipamento, é preciso compreendê-lo. Não basta compreender suas características técnicas, é preciso saber usá-las. Não basta apenas saber usar o equipamento corretamente, é preciso um olhar próprio e um conceito a desenvolver.

Acho que foi Martin Parr (não estou certo, perdoem-me) que disse que hoje as possibilidades da fotografia estão disponíveis a quase todos pelos modernos equipamentos, mas a boa fotografia é cada vez mais rara.

Falta o olhar do fotógrafo, falta a arte que vai além mesmo da composição. A fotografia como expressão artística precisa de um conceito estético para se colocar e assim passar sua mensagem.

Vale a pena conferir a exposição Entre Orillas de Iana Soares que além do registro de viagem nos mostra seu olhar próprio sobre Sul do continente das Américas.



foto: Iana Soares



Serviço:

Entre orillas
Iana Soares
em cartaz até o dia 31 de janeiro
segunda a sábado das 11h30 às 14h30 e de 17 horas à meia-noite
Dona Chica
Avenida da Universidade, 2475 – Benfica
Entrada franca
85 3454 1182

Enio Castelo




sábado, 15 de dezembro de 2012

Mágica Imagem


É certo que alguns povos não se deixam captar pelas câmeras fotográficas com medo de que o equipamento roube suas almas. Também sabemos que muitas vezes a fotografia foi usada com pseudoprova para eventos sobrenaturais como a existência de fadas, doendes, discos voadores e fantasmas.

Mas o quê de realmente metafísico tem a fotografia?

A meu ver: muito. Apesar de todo o arcabouço científico, físico e mecânico que explica a formação da imagem e desmistifica a prova de muitos eventos sobrenaturais, há, inegavelmente, um conteúdo que transcende explicações quando se estabelece a fotografia.

E talvez o mais significativo deles seja a relação de comunicação que nasce entre fotógrafo e o momento da criação da imagem com o expectador que absorve a fotografia.

Acredito que pensando nisso se pautou a curadoria da exposição Mágica Imagem que está em cartaz no Instituto Cultural Iracema até 30 de janeiro de 2013 e faz parte das ações do Encontro de Agosto 2012, uma promoção do Fórum da Fotografia do Ceará.

Como bem observa a coordenadora da exposição, Patrícia Veloso, na seleção das imagens se quer que os autores levem “o público a pensar: o que de mágico tem nessa obra?”.

Um dos curadores da exposição, o fotógrafo e professor da UFC, Silas de Paula, destaca a ideia na fotografia contemporânea que “olha o passado, busca no futuro para mostrar-se no presente”. Nessa hora a captação de imagens trabalha o aspecto temporal. Como se pudesse parar o tempo a fotografia as vezes pretende congelar o passado e com uma perspectiva de futuro quer mostrar-lo num presente.

Também ressalta o professor o “eterno paradoxo entre mágica e realidade” que pela fotografia torna-se mais aparente. A fotografia “reflete uma realidade, mas ao mesmo tempo recusa submeter-se a ela”. É o caráter transformador da fotografia. Ela capta uma determinada situação, mas ao mesmo tempo esta situação se consubstancia em outra realidade, a realidade da imagem, que não é exatamente a matéria captada, mas sua representação.

Também podemos dizer, ainda sobre o caráter transformador da fotografia, que o fotógrafo muitas vezes registra uma realidade de tal forma que sua representação gere no expectador a perspectiva de mudança. É a fotografia em seu caráter político. É a mágica de se transformar consciências através da ideia inscrita em toda boa fotografia.

Enfim, Mágica Imagem tem muito a nos ensinar. Como toda boa exposição de fotografia nos faz refletir, e talvez esta seja a maior mágica proporcionada pela experiência fotográfica.

Boa exposição!

João Palmeiro
Roberta Felix




SERVIÇO
12 de dezembro até 30 de janeiro de 2013
das 16 às 21h de terça a sábado
Instituto Cultural Iracema
Entrada franca
85 3261 0525