É notícia na imprensa que
Fortaleza é uma das cidades mais violentas do Brasil, até do mundo, e pode ter
certeza que fotografar aqui é um perigo constante. Mas o que dizer dos
brasileiros que fotografam os conflitos pelo mundo? Isso é o que se propõe
mostrar a exposição Na Linha de Frente – Fotógrafos Brasileiros em Conflitos
Armados, em cartaz no Museu Fotografia Fortaleza (MFF) até fevereiro de 2018.
A guerra é algo cruel e revela o
pior do ser humano. Algo que precisa ser mostrado e debatido pela sociedade
para que seja, ao máximo, evitada. É um ato de risco fotografar esses eventos e
é necessário muita técnica e profissionalismo. Mas as mais de 70 obras em
exposição vão além, exibem o olhar peculiar de cada jornalista.
Os retratos feitos de crianças na
série Sonhos por João Castellano, por exemplo, mostram uma inquietação sobre o
futuro das pessoas que vivem nas áreas de conflito. A partir da pergunta: o que
você quer ser quando crescer, ele inicia a interação com as crianças que no
dizer de Cristina Veit passam a ser “protagonistas e não mais vítimas” e daí
surgem os retratos. São retratos de corpo inteiro, de frente, ao fundo uma
parede de concreto desgastado pelo tempo. São crianças como quaisquer outras, mas
vivendo uma realidade brutal. Em última análise caberá a elas no futuro decidir
se permanecerão em guerra ou se optam pela paz.
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Fotografias da série Sonhos, João Castellano, DIVULGAÇÃO |
Também desperta admiração o
trabalho de André Liohn. Ele capta as imagens tão próximas usando uma lente 28
mm e faz valer a máxima de Robert Capa “Se suas imagens não ficaram boas, é
porque você não se aproximou o suficiente de seu assunto”. Algumas imagens são
chocantes e desassossegam. Mas é a realidade, é o mundo em que vivemos sem
desfaces. Nas palavras do próprio Liohn “o máximo que podemos fazer é registrar
a guerra com honestidade, sem filtros”.
Em umas das fotos de Liohn, um pé
de soldado está pisando uma poça de sangue e cartuchos de bala. Na foto O
dominante e o dominado (2011) uma mão julgadora aponta pra dois homens sentados
totalmente submissos. Já na fotografia Vitórias e derrotas (2011), um soldado
está fazendo uma fotografia de outro que mostra o V da vitória sob um cadáver
ensanguentado. É o ódio concretizado e precisa ser visto porque é uma das faces
da humanidade.
O Brasil não tem muita tradição
em fotografia de guerra, esse trabalho está sendo feito majoritariamente nesta
última década. E é o que mostra a exposição, uma iniciativa interessante embora
não se possa definir um olhar brasileiro da guerra, cada jornalista tem sua
visão. E acho que é bom que seja assim. Além de Liohn e Castellano integram a
exposição Gabriel Chaim, Mauricio Lima, Felipe Dana e Yan Boechat.
Acima de tudo quando vamos a uma
exposição dessas precisamos aprender a ter um pouco de coragem para encarar
pela frente imagens tão brutais. É papel de fotojornalistas nos apresentar tal
realidade. Mas deve ser uma tarefar dura e sobre tudo complexa. Como enfrentar
o medo? Como construir um olhar estético sobre o horror?
Refletir sobre o horror nos faz
também lembrar a guerra camuflada em Fortaleza e do papel do fotojornalista no
nosso cenário, bravos combatentes a mostrar uma violência que não pode ser
esquecida, mas antes de tudo, refletida.
Enio Castelo
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