segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

"How to keep it real?" – Livro Viva Fortaleza

Assistindo a um desses programas de tv a cabo, numa sátira aos ‘coachs’ de futebol americano, me deparei com um gritando “Let’s keep it real!”. Seria ótimo se a própria realidade não fosse um valor relativo, e não absoluto, como tendemos a acreditar.

Em matéria de história e do tempo, a verdade, como diz o poeta, é que o futuro sempre vem. Por isso mesmo, o hoje presente e real, não passa de um pedaço do caminho a percorrer e que está sempre em modificação.

A exposição e o excelente livro, Viva Fortaleza, Terra da Luz Editorial, lançado recentemente é uma tentativa saudável e um exemplo do que podemos fazer para, em termos de história, “keep it real!”.

Os organizadores do projeto, Patrícia Veloso e Gylmar Chaves, fizeram um excelente trabalho partindo da fotografia como base. Serviram como material, arquivos de grandes fotógrafos cearenses e de famílias e personalidades que mantém acervos fotográficos e de objetos da história da cidade, como os acervos da marchand D. Ignez Fiuza e do memorialista Nirez.

Mas as fotos são o ponto de partida, um mote para pensar Fortaleza nesses últimos 50 anos. Patrícia convidou além de fotógrafos, intelectuais e escritores como Demitri Túlio e Lira Neto para contar histórias sobre a cidade e a refletir sobre a mutante Fortaleza. Propôs também novos ensaios fotográficos e novas visões sobre o tema.

O resultado da exposição e do livro é um recorte de Fortaleza com a visão de várias personalidades que de certa forma participaram ou foram testemunhas dessas mudanças. Há a tentativa de registrar a realidade e história dessa cidade que virou uma grande metrópole numa rapidez incomum.

É inevitável que o registro não seja só de Fortaleza, mas das incríveis e rápidas mudanças que ocorreram na cidade nesses 50 anos. Daí a preciosidade da publicação.

Mas mesmo que Fortaleza não mudasse tão freneticamente (e parece que vai mudar mais ainda nos próximos anos) não conseguiríamos preservá-la em sua inteireza e fidelidade. As mudanças, em qualquer grau de velocidade, são inevitáveis e inexoráveis.  O Louvre preservará a Mona Lisa o máximo possível, mas um dia, como diz a profecia bíblica, tudo virará pó. Tal qual a música cantado por Lenine, tudo é, no final, areia.

Entretanto podemos fazer algo que vá além da matéria e do real. Cultivar seu valor cultural. Que já não está mais na esfera do tangível, mas da consciência e, mais ainda, da consciência coletiva.

É isso que o livro Viva Fortaleza faz – aliás, o livro é a segunda etapa do projeto "Memórias da Cidade" que já tem publicado o livro Ah! Fortaleza.  Cultivar e fomentar a reflexão sobre a Cidade. Uma cidade tão veloz em suas mudanças que chega a ser difícil apontar uma identidade para ela. Alguém já disse que a mudança constante é a própria identidade de Fortaleza.

Fotógrafos como Gentil Barreira e Nelson Bezerra, só para citar alguns, desempenharam e desempenham até hoje um trabalho que além da estética e do óbvio registro, realiza uma função social e documental da história da cidade. Seu material e acervos são mais importantes ainda pelo fato da constante e veloz transformação dos espaços e da cultura da capital. O livro, apesar de não ter sido feito com o propósito paradidático, é indispensável às atuais e futuras gerações na construção desta nossa “realidade” e deveria ser necessariamente acessível às escolas e universidades.

(...)

Não, não é pra sempre. Nada é para sempre. Tudo está em transição e transformação e não conseguiremos congelar o passado como se imagina (erradamente) possa ser a função dos museus. Mas podemos sim, e deveríamos sempre, pensar a história e criar diálogos entre o passado que não existe mais no “real” (mas existe através da memória), e o presente que estamos construindo agora.

Não sei se surgirá um futuro melhor (não há certezas absolutas também), mas provavelmente um futuro mais consciente, mais participativo da sociedade e mais seguro no que pretendemos construir como “realidade”.

Cito um excelente trabalho precedente a este, um pouco diferente é verdade, mas que serve como referência e que hoje tem um valor inestimável: o acervo de Marc Ferrez (1843 - 1923). Hoje sob curadoria do IMS – Instituto Moreira Salles.

Ferrez ainda no tempo de uma fotografia incipiente documentou o Brasil e em especial o Rio de Janeiro de forma pioneira. O resultado belíssimo das imagens transcende o aspecto estético evidente, para ser, além de belo, registro documental. Um registro histórico de valor cultural incalculável.

São documentos-imagens de uma época que não ficou congelada na história, mas está registrada pela visão e esforço de um artista e documentarista precursor no que fez e modelo para os fotógrafos atuais e futuros. Seu trabalho hoje dá subsidio para as transformações que o Rio de Janeiro passará para sediar a Capa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Pode-se assim, contribuir e ser agente consciente em termos histórico e cultural nas transformações sobre a realidade. Publicações como Viva Fortaleza são instrumentos (no Ceará, instrumentos raros e preciosos) para esse exercício de consciência na transformação inexorável da realidade e na tentativa de na medida do que for possível: “Keep it Real!”

SERVIÇO:
A partir de 06 de dezembro de 2011.

(85) 3261.0525, 8814.4593


Enio Castelo

Fortaleza – CE, janeiro de 2012.


Capa do Livro "Viva Fortaleza", Terra da Luz Editorial (Divulgação)

Foto de Maurício Albano para a publicação "Viva Fortaleza" (Divulgação)



Duas imagens de Fortaleza em épocas diferentes (Divulgação )
fonte: http://vivafortaleza.blogspot.com

Foto de Nelson F Bezerra (Divulgação)




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