segunda-feira, 18 de julho de 2011

apneia de filipe acácio

Um ótimo livro do guru de administração Tom Peters, chamado Reimagine, dedica um capítulo inteiro ao design. Considera essa atividade fundamental para os negócios afirmando que o administrador deve pensar como um designer.

Um fotógrafo pode não ser um designer e fazer um belo trabalho. No entanto um designer tem na fotografia um instrumento maravilhoso para exercer design e fotografia (ou fotodesign).

No mesmo livro Peters defende que o cliente, o fornecedor e o funcionário não querem só comprar, vender ou trabalhar, eles querem ter uma experiência sensível, vivenciar de uma forma preciosa a relação de negócio que lhes dê significado a este ato. Como exemplo ele cita as pessoas que compram motos, e estão dispostas a pagar mais caro ainda por motos Harley-Davidson. Não porque precisam se transportar, mas porque querem vivenciar a liberdade e o poder que as motocicletas evocam. Quanto mais uma Harley-Davidson.
Mudando dos negócios para a fotografia de arte, o expectador, como o cliente para Peters, quer também vivenciar uma experiência singular, quer sentir algo. É isso que filipe acácio proporciona com o ensaio apneia, apreentado na Galeria Vida & Arte do jornal O Povo (publicado em 10/07/2011).


[apneia]01 - do arquivo pessoal do artista

[apneia]02 - do arquivo pessoal do artista



Ele nos faz mergulhar sem água, prender a respiração e ver cores em tom de verde e azul num mundo paralelo abaixo d’agua. Ausente o ar, experienciamos o abismo que ele nos propõe. Com a comodidade de não ficarmos restritos aos dez segundos, temos todo o tempo da contemplação.

Não me arisco a dizer que filipe aqui foi designer (profissão com a qual nos é apresentado, além de fotógrafo), mas com certeza seu trabalho nos proporciona arte. Como Munch que nos faz “ouvir” o grito mesmo sem som em sua tela (O Grito), e como Monet que nos faz quase “pegar” as flores de Giverny. O fotógrafo-designer nos tira o ar e mergulhados em apnéia.

"O Grito" Fonte: http://entremundos.com.br


E embora o design não seja a característica marcante do ensaio, já que o trabalho é fundamentalmente arte contemporânea, os conhecimentos de design de filipe com certeza lhe foram úteis como instrumento para a fotografia que por sua vez também é instrumento para executar o trabalho e podermos, enfim, ter arte.

Mas deixemos os rótulos e tecnicidades de lado e vivenciemos um mergulho em apneia pelo abismo.


Julho/2011.


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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Livro “Patativa do Assaré - o sertão dentro de mim”

O poeta Patativa do Assaré é um ícone do Nordeste. Faz parte do imaginário do povo e é um clássico da literatura da região. Mas que um regionalista e que um representante da arte do povo nordestino ele é um artista universal. Como, aliás, são todos os clássicos.

Patativa do Assaré - o sertão dentro de mim

Cantado por Luiz Gonzaga e Raimundo Fagner, registrado cinematograficamente por Rosemberg Cariry, estudado na Europa e Estados Unidos, agora o poeta é tema do livro “Patativa do Assaré - o sertão dentro de mim” com fotografias de Tiago Santana e texto do pesquisador Gilmar de Carvalho.

Ainda não tive acesso ao livro, mas me arisco a escrever sobre a escolha do seu tema. Tiago Santana é renomado pelo registro que faz do povo mais sofrido do interior do sertão nordestino como em “Benditos” e "O Chão de Graciliano". Agora o fotógrafo se debruça sobre um exemplo puro da arte da região com o acréscimo da análise de um intelectual também pautado pelo tema do nordeste, o professor Gilmar de Carvalho. Nada mais coerente com o tema central da carreira do fotógrafo, o Nordeste, ou melhor, o nordestino.

Portanto, o livro, além de ser mais uma contribuição para imortalizar o poeta do Cariri, é também uma escolha acertada e coerente na trajetória do fotógrafo cearense, que já traçou seu caminho confirmando-se como um dos mais importantes fotógrafos a registrar a iconografia nordestina.

Julho de 2011.