terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Galeria Ifoto


Estive em duas exposições nestas semanas. Uma no Centro Cultural dos Correios em Fortaleza, “Um olhar livre”, do fotógrafo lituano Antanas Sutkus, com curadoria de Luiz Gustavo Carvalho e na “Galeira Ifoto”, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

A exposição de Sutkus me fez lembrar o incrível poder da fotografia (e do cinema também, que não deixa de ser fotografia) de nos transportar a outros lugares tão dispares de nossa realidade que ficamos fascinados com as novas referências. Mas não vou escrever sobre isso hoje, deixo para um próximo artigo.

Queria mesmo falar da Galeria aberta pelo Dragão do Mar usada pela primeira vez pelo Ifoto – Instituto da Fotografia (grupo de fotógrafos cearenses). É um espaço novo muito bem vindo em Fortaleza onde obras de diversos artistas poderão ser negociadas ao público. O espaço está muito bacana e vale a pena a visita.

Não sei quem fez a curadoria das obras expostas, mas fotografias e fotógrafos estão muito bem selecionados. Talvez a nata dos fotógrafos cearenses, embora algumas figuras faltem inevitavelmente como Tiago Santana, por exemplo, hoje o mais reconhecido dos fotógrafos cearenses no Brasil e no exterior.

Dentre as imagens selecionadas há a habitual competência e o profissionalismo de Gentil Barreira. Há também o já clássico testemunho visual do povo mais sofrido de nossa terra feito por Celso Oliveira, a delicadeza de Henrique Torres, entre outros fotógrafos. Mas dois profissionais me chamaram mais a atenção em particular: Sheila Oliveira e Silas de Paula.

O professor e pesquisador Silas de Paula leva à galeria imagens grandes em tamanho, o que já gera um impacto inicial, elas nos propiciam uma perspectiva diferente, eu diria inusitada. Olhamos para a cena de cima para baixo como fossemos deuses no céu ou pequenas moscas a bisbilhotar a vida alheia. Deve ter sido difícil a produção das fotos (ou quem sabe ele se valeu de algum insight que só os geniais têm). As cenas são compostas por prosaicas mesas na hora da refeição. É a hora do lanche, quando somos quem realmente somos.  A cor nas imagens, muito bem colocada, é outro fator que chama a atenção.

Sheila Oliveira consegue ser mais brilhante ainda. Ela dá um efeito plástico às suas imagens em perfeita sintonia com o melhor da arte contemporânea. Seu conhecido e árduo trabalho sobre o aterro da Praia de Iracema parece ter chegado ao ápice com essas imagens. Ela usa do minimalismo para tornar as fotos (uma sequência de três imagens) próximas à arte concreta. A iluminação do aterro serve de instrumento para as formas geométricas e o granulado das fotografias nos dá a sensação tátil que precisamos para vermos nas imagens mais do que simples fotografia, mas arte independente do nome que se dê ao suporte. Além de abordar um tema muito caro à arte atual: a cidade. Já que se trata de um registro de um local muito importante na cidade de Fortaleza, inclusive fruto de uma intervenção humana na natureza que deve ser discutido em seu papel e em suas consequências (o que está sendo feito pelo trabalho de Sheila mesmo que essa não seja a intenção dela). Um trabalho digno de uma bienal.

Não sei quanto as obras estão custando (não havia ninguém para informar, uma pena), mas seguramente é um investimento bom para quem sabe que a fotografia cearense tem seu valor e aos poucos vai fazendo a sua história. Espero que essa experiência dê frutos e fotógrafos mais novos possam também mostrar seu trabalho num futuro próximo.

Fotografia de Sergio Carvalho que faz parte da seleção de imagens da galeria


Fortaleza – CE, fevereiro de 2013.

Enio Castelo

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Entre Orillas


A relação entre o viajante e a fotografia é poderosa. Viajar sem um equipamento fotográfico é quase impossível de se pensar nos dias de hoje, mas o resultado...

Mas e quando a viagem é um passeio, mas o turista é um fotógrafo profissional? Ai o resultado pode ser brilhante.

Iana Soares repórter fotográfica do jornal O Povo viajou a passeio para Sul das Américas, mas se viu sem seu equipamento, que quebrado, lhe deixou na mão. Apareceu então um celular de presente do pai. E como fotografia depende muito menos de equipamento do que do olhar e da desenvoltura do fotógrafo, as imagens ficaram belíssimas num prosaico retrato das terras e das gentes do Sul da América.

Comparando o resultado das fotos de Iana ao dos turistas (fotógrafos eventuais) fico a pensar como a fotografia é mesmo uma forma de arte e uma atividade que requer além de treinamento, dedicação, estudo e empenho em desenvolver um bom trabalho.

Não basta comprar o melhor equipamento, é preciso compreendê-lo. Não basta compreender suas características técnicas, é preciso saber usá-las. Não basta apenas saber usar o equipamento corretamente, é preciso um olhar próprio e um conceito a desenvolver.

Acho que foi Martin Parr (não estou certo, perdoem-me) que disse que hoje as possibilidades da fotografia estão disponíveis a quase todos pelos modernos equipamentos, mas a boa fotografia é cada vez mais rara.

Falta o olhar do fotógrafo, falta a arte que vai além mesmo da composição. A fotografia como expressão artística precisa de um conceito estético para se colocar e assim passar sua mensagem.

Vale a pena conferir a exposição Entre Orillas de Iana Soares que além do registro de viagem nos mostra seu olhar próprio sobre Sul do continente das Américas.



foto: Iana Soares



Serviço:

Entre orillas
Iana Soares
em cartaz até o dia 31 de janeiro
segunda a sábado das 11h30 às 14h30 e de 17 horas à meia-noite
Dona Chica
Avenida da Universidade, 2475 – Benfica
Entrada franca
85 3454 1182

Enio Castelo