Estive em duas exposições nestas semanas. Uma no Centro
Cultural dos Correios em Fortaleza, “Um
olhar livre”, do fotógrafo lituano Antanas Sutkus, com
curadoria de Luiz Gustavo Carvalho e na “Galeira
Ifoto”, no Centro Dragão do Mar de
Arte e Cultura.
A exposição de Sutkus
me fez lembrar o incrível poder da fotografia (e do cinema também, que não
deixa de ser fotografia) de nos transportar a outros lugares tão dispares de
nossa realidade que ficamos fascinados com as novas referências. Mas não vou
escrever sobre isso hoje, deixo para um próximo artigo.
Queria mesmo falar da Galeria
aberta pelo Dragão do Mar
usada pela primeira vez pelo Ifoto – Instituto da
Fotografia (grupo de fotógrafos cearenses). É um espaço novo muito bem
vindo em Fortaleza onde obras de diversos artistas poderão ser negociadas ao
público. O espaço está muito bacana e vale a pena a visita.
Não sei quem fez a curadoria das obras expostas, mas
fotografias e fotógrafos estão muito bem selecionados. Talvez a nata dos
fotógrafos cearenses, embora algumas figuras faltem inevitavelmente como Tiago
Santana, por exemplo, hoje o mais reconhecido dos fotógrafos cearenses no
Brasil e no exterior.
Dentre as imagens selecionadas há a habitual competência e o
profissionalismo de Gentil Barreira.
Há também o já clássico testemunho visual do povo mais sofrido de nossa terra
feito por Celso Oliveira,
a delicadeza de Henrique Torres, entre
outros fotógrafos. Mas dois profissionais me chamaram mais a atenção em
particular: Sheila
Oliveira e Silas de Paula.
O professor e pesquisador Silas de Paula
leva à galeria imagens grandes em tamanho, o que já gera um impacto inicial,
elas nos propiciam uma perspectiva diferente, eu diria inusitada. Olhamos para
a cena de cima para baixo como fossemos deuses no céu ou pequenas moscas a
bisbilhotar a vida alheia. Deve ter sido difícil a produção das fotos (ou quem
sabe ele se valeu de algum insight que só os geniais têm). As cenas são
compostas por prosaicas mesas na hora da refeição. É a hora do lanche, quando
somos quem realmente somos. A cor nas
imagens, muito bem colocada, é outro fator que chama a atenção.
Sheila
Oliveira consegue ser mais brilhante ainda. Ela dá um efeito plástico às
suas imagens em perfeita sintonia com o melhor da arte contemporânea. Seu
conhecido e árduo trabalho sobre o aterro da Praia de Iracema parece ter
chegado ao ápice com essas imagens. Ela usa do minimalismo para tornar as fotos
(uma sequência de três imagens) próximas à arte concreta. A iluminação do
aterro serve de instrumento para as formas geométricas e o granulado das
fotografias nos dá a sensação tátil que precisamos para vermos nas imagens mais
do que simples fotografia, mas arte independente do nome que se dê ao suporte. Além
de abordar um tema muito caro à arte atual: a cidade. Já que se trata de um
registro de um local muito importante na cidade de Fortaleza, inclusive fruto
de uma intervenção humana na natureza que deve ser discutido em seu papel e em
suas consequências (o que está sendo feito pelo trabalho de Sheila mesmo que
essa não seja a intenção dela). Um trabalho digno de uma bienal.
Não sei quanto as obras estão custando (não havia ninguém
para informar, uma pena), mas seguramente é um investimento bom para quem sabe
que a fotografia cearense tem seu valor e aos poucos vai fazendo a sua
história. Espero que essa experiência dê frutos e fotógrafos mais novos possam
também mostrar seu trabalho num futuro próximo.
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Fotografia de Sergio Carvalho que faz parte da seleção de imagens da galeria |
Fortaleza – CE,
fevereiro de 2013.
Enio Castelo